domingo, 25 de dezembro de 2011

OLHO SECO

 

                Eles não só são fiéis guardiões do peso do rock paulista. Fábio é o do. no da loja que era o principal ponto de encontro dos punks e criador de um selo independente. Enquanto alguns de seus contemporâneos, já partiram para outra, eles continuam batendo na mesma tecla...

                Antes mesmo do cenário paulista entrar em franca ebulição (81), Fábio (vocal) começou a ir ao centro de São Paulo para vender seus discos de ´rock (79). "Eu estava desempregado", conta. Por essa época começaram a chegar, mesmo que em pontos isolados, discos dos Sex Pistols, Clash e afins... Uma sacada, outra e mais outra, Fábio chega em 81 com uma loja própria de discos, um selo independente e uma banda.
                A Punk Rock Discos (atual New Face Records) era o ponto de encontro de uma moçada interessada em algo mais que os velhos hard rockers. Portador de um catálogo único no gênero, Fábio era para ser um dos produtores mais bem sucedidos no mercado independente. Hoje ele tem perto de 30 fitas masters de grupos estrangeiros, mais possibilidade de gravar 10 bandas nacionais, todos aguardando uma mudança de comportamento no mercado - papel, vinil, prensas, sempre em prioridade para algumas outras prioridades nem sempre prioritárias.
                Em 82, envolvido por uma agitada correspondência com o exterior - que vinga até hoje - Fábio re-solve fazer o primeiro registro daquele momento e grava, pelo seu selo, o LP Grito Suburbano. Onde apareciam os pioneiros Olho Seco, Cólera e Inocentes. Naqueles áureos tempos, muitos achavam que a coisas não ia parar por ali. Tudo levava crer que finalmente se instalaria no Brasil um círculo cultural jovem ativo. Não aconteceu bem assim. Entre a vontade e a realização, se meteu a força da grana. Os que começaram juntos seguiram por caminhos diferentes: os Inocentes estão na WEA, o Cólera foi excursionar na Europa este ano, já o Olho Seco insistiu no anonimato - nem tanto por vontade própria.
                Fábio está com 33 anos, Sartana com 29. Os demais integrantes, chegados em meados de 85 têm 22 anos (Alexandre, baixo) e 28 (Luis, guitarra). O que mantém o grupo em pé uma única vontade - tocar.
                Curioso verificar que um dos mercados menos explorados nesta terra é do rock pesado, ou o hard rock, ou hardcore e suas mil ramificações, com um número de seguidores suficiente para formar um circuito estável e permanente. "Não tem show, não tem motivação, não tem aparelhagem. Lá fora existem milhões de opções. Aqui fica todo mundo vagando... Pô, tem jovem para caramba aqui. Até bandas que não têm um som tão radical, se fodem do mesmo jeito. Só tem aquele(s) grupo(s), tocando a mesma coisa e pensam que aquilo é rock. Caras que entendam de rock no Brasil é uma coisa muito difícil. Tem ´milhões´ de jovens que optariam por um show como o nosso ou dos Ratos de Porão, por exemplo. O que é isso?!?!", desabafa, indignado, Fábio.
                Hoje ele olha para os lados e não vê nada. Não sai de casa. Mantém a muito custo sua loja e seu selo. De qualquer forma, esses caras vão morrer tocando. Seja para liberar energia: "Se eu ficar dois domingos sem ensaiar, já fico meio tenso", fala Sartana. O cara não precisa ser peão ou auxiliar de escritório e ensaiar de fim de semana sem ganhar nada. Desde 82 eu penso isso", aponta Fábio. E o resultado é uma discografia significativa, além de Grito Suburbano, eles estão presentes em: O Começo do Fim do Mundo (82), registro histórico do festival punk do Sesc Pompéia, com uma aparição do Olho Seco (vinil em poder de alguns colecionadores), um compacto intitulado "Botas, Fuzis e Capacetes", de 83, mais um LP repartido com o grupo Brigada do Ódio chamado Olho Seco e Brigada do Ódio, de 85. Para este ano, eles entram na coletânea Contra-Ataque do selo Ataque Frontal e preparam um LP individual pela New Face Records.
                Completando, Sartana reafirma uma premissa do Olho Seco: "Gostamos tanto do som que só fazemos para nós quatro. Não nos preocupamos se vão gostar ou não". Olho Seco "é uma bola de neve em avalanche", como define Fábio. Aquela hecatombe sonora que tira qualquer um da letargia do dia-a-dia ou joga fora a adrenalina concentrada. Um olho seco, outro de "gato, pele de pato. Almoçando, eu vi sua orelha meu prato", lembra providencial-mente a letra de "Olho de Gato".



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